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O que BRMalls, Multiplan, CCP e José Galló viram na Delivery Center


Em um mercado local ainda carente de uma massa crítica de empreendedores com um longo histórico de fracassos e acertos, Andreas Blazoudakis é uma das exceções. Aos 53 anos, sendo 30 deles dedicados a esse ecossistema, ele ostenta no currículo a fundação de 17 startups.


A extensa lista inclui a participação na criação de dois unicórnios: Movile e iFood. “Espero estar agora na trilha para o terceiro”, brinca o empreendedor, em uma referência a Delivery Center, empresa de gestão de entregas fundada por ele e mais quatro colegas, no fim de 2016.


Depois de captar R$ 90 milhões e de alcançar uma avaliação de R$ 300 milhões nesse período, a startup acaba de fechar uma nova rodada de investimentos para financiar sua próxima etapa de expansão. Os novos sócios ainda são mantidos em segredo. Mas o valor foi antecipado ao NeoFeed.


“Com a injeção de mais de R$ 100 milhões, já temos garantido o nosso plano de crescimento para 2020”, diz Blazoudakis. “Agora, vamos buscar mais R$ 300 milhões para cumprir a segunda fase dessa estratégia, programada para 2021.”


O modelo da Delivery Center se baseia em hubs instalados em shopping centers. A partir dessa rede, a empresa centraliza e gerencia os pedidos feitos aos lojistas desses centros de compra, sejam eles realizados pelos canais próprios de e-commerce ou por meio de aplicativos parceiros, como iFood, Rappi e Uber Eats, que são ao mesmo tempo concorrentes e parceiros.


O processo envolve desde a coleta de itens junto aos varejistas até a entrega dos pedidos, feita por meio de motoboys e com o uso de recursos que identificam o hub da rede mais próximo da localização do consumidor.


Na prática, o formato transforma os shoppings como o ponto de partida para a chamada primeira milha. Além de ampliar a cobertura e o potencial de vendas, e de reforçar a integração entre os canais físicos e online desses lojistas, o formato trabalha com entregas em menos de uma hora.


Hoje, a Delivery Center processa um volume de 160 mil pedidos mensais. Desse fluxo, 90% são relacionados a comida. O objetivo, porém, é ampliar cada vez mais a participação de outras categorias.

A Delivery Center processa um volume de 160 mil pedidos mensais. Desse fluxo, 90% são relacionados a comida

Uma parceria recente com o Mercado Livre é uma das estratégias para ampliar essa fatia. Depois de um projeto-piloto no Shopping Villa Lobos, em São Paulo, o acordo será estendido aos demais shoppings da rede no início de 2020.


Sócios estratégicos


Com essa proposta, a Delivery Center investiu na atração de sócios estratégicos em seus primeiros anos de operação. “A ideia era ter como acionista um ou dois representantes de cada elo dessa cadeia”, diz Blazoudakis.


Hoje, a startup tem um pool respeitável de acionistas. A relação inclui Bloomin Brands (Outback e Abraccio); Grupo Trigo (Spoleto); Fernando Stein, CEO da rede de estacionamentos Indigo; o family office de José Galló, presidente do Conselho de Administração da Renner; BRMalls; Multiplan; e Cyrella Commercial Properties (CCP).

No caso desses três últimos sócios, além do aporte, a entrada na operação envolveu a assinatura de contratos de exclusividade para a oferta do serviço nos shoppings administrados por essas companhias.


“O Delivery Center oferece ainda mais conveniência aos consumidores”, afirma Vander Giordano, vice-presidente da Multiplan. “E traz oportunidades para os nossos lojistas, pois permite que eles atendam aos vizinhos dos empreendimentos com agilidade e qualidade.”

A CEO da consultoria AGR, Ana Paula Tozzi, destaca o fato de a Delivery Center ser a pioneira desse modelo no País. “Eles estão saindo na frente e têm a vantagem de contar com acionistas de toda essa cadeia de consumo, o que garante uma demanda inicial considerável”, afirma.


As novas rodadas de captação carregam, no entanto, a busca por investidores de perfil mais financeiro. Com a injeção de recursos, a meta é expandir e fortalecer a rede da startup, que hoje conta com 25 hubs distribuídos em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Santo André, cidade do ABC Paulista.


A empresa quer fechar 2020 com 60 centros em operação. No primeiro semestre, o mapa irá incorporar Curitiba, Brasília e Belo Horizonte. Na segunda metade do ano, a expansão alcançará outros municípios e regiões, com prioridade para os shoppings das acionistas.

Para 2021, o plano é mais agressivo. O objetivo é alcançar 200 unidades, em 43 cidades.


Desse total, 10% terão como formato o que a empresa classifica como dark malls. Na prática, são estruturas que combinam cozinhas compartilhadas e operações de outras categorias dedicadas exclusivamente ao delivery, com gestão da Delivery Center.


A startup já mantém uma unidade nesse modelo em Porto Alegre. Instalada em um espaço de 3 mil metros quadrados, a estrutura abriga 27 parceiros, sendo 20 dark kitchens. Com o apoio de 200 motoboys, a central processa um volume mensal de 50 mil pedidos.


A partir de janeiro, a Delivery Center começa a testar a instalação de hubs também em prédios comerciais. A intenção é conectar esses empreendimentos com os centros localizados nos shoppings parceiros. Cada estrutura oferecerá serviços de concierge, responsáveis pela gestão dos motoboys e pelas entregas em cada andar das torres em questão.


O projeto terá início com 12 prédios da CCP, nas regiões das avenidas Faria Lima e Berrini, em São Paulo. Ao ligar as duas redes e ao compartilhar entregas – com oito a dez pacotes por viagem, a proposta é entregar benefícios como a redução no custo dos fretes e o acesso a um público mais amplo. No caso da CCP, cada empreendimento tem, em média, 3 mil pessoas, excluindo dessa conta os visitantes.


Depois dos pilotos com a CCP no primeiro trimestre, a Delivery Center planeja estender o formato a outras construtoras e incorporadoras, além de outras regiões, começando pelos demais corredores de grande fluxo em São Paulo, como a Avenida Paulista.

No médio prazo, as estratégias passam ainda pelo investimento em canais como os supermercados e, possivelmente, em novos modais de entrega.


Negócio da China


Para chegar à fundação da Delivery Center, Blazoudakis percorreu muitas milhas. No início dos anos 2000, ele criou a Yavox. Na época, as mensagens de texto (SMS) dominavam os negócios nos celulares. Entre outros projetos, a empresa operou, por dez anos, as votações do Big Brother Brasil.


“Com a chegada dos aplicativos, eu passei a ter 10 mil concorrentes da noite para o dia”, diz. Então, em 2009, ele se uniu a outros empreendedores que enfrentavam o mesmo desafio. Da fusão de diversas empresas nasceu a Movile.


A inspiração para a Delivery Center surgiu das visitas anuais à China que Blazoudakis passou a fazer a partir de 2010, já como vice-presidente de inovação da Movile. Foi lá que ele testemunhou a ascensão dos serviços que usavam a logística e a recorrência do delivery de comida para impulsionar a venda de outras categorias no comércio eletrônico.


“Em 2016, vi nomes como Alibaba comprando participações em operações offline e voltei para o Brasil defendendo que a Movile precisava investir em tijolos. O pessoal achou que eu estava louco”, conta. Com essa ideia na cabeça, ele deu início à nova empresa, a princípio, debaixo do guarda-chuva do grupo.


No decorrer do tempo, ele vendeu 100% das ações que detinha na Movile. Os cerca de R$ 15 milhões foram aplicados para financiar os primeiros passos da Delivery Center. E, a julgar pelos resultados obtidos até o momento, não há motivos para se arrepender. A empresa vai fechar 2019 com um faturamento de R$ 100 milhões, ante os R$ 15 milhões apurados no ano passado.


“A entrega de mesma hora no e-commerce vai ser a bola da vez nos próximos anos”, afirma o empreendedor, citando o exemplo de Rappi, Uber Eats, iFood, Magazine Luiza e Mercado Livre como empresas que estão investindo fortemente nesse modelo. “O mercado é muito grande. E como a nossa plataforma é aberta, nós iremos plugar quem estiver nessa corrida.”


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